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Cultura ética se constrói junto: ESG e o uso responsável da IA

O conceito de ESG (Environmental, Social and Governance) orienta empresas a equilibrar resultados financeiros com responsabilidade ambiental, social e ética. As organizações passam a ser avaliadas não só por seu desempenho econômico, mas também pelo impacto positivo que geram na sociedade e no meio ambiente. Nesse cenário, o uso ético da inteligência artificial (IA) ganha destaque, pois influencia decisões e afeta diretamente a vida das pessoas.
Além do eixo governança, a IA tem também fortes impactos no eixo social. A IA afeta a inclusão, as relações sociais e a interação entre Estado, empresas e cidadãos. Por isso, analisar a ética da IA sob o pilar social do ESG é essencial, reforçando valores como confiança, equidade e justiça, fundamentais para o bem-estar coletivo.
Sensibilizar os empregados para as questões relacionadas ao uso responsável da IA passa pelo fator social. Nesse sentido, eventos, principalmente presenciais, representam uma poderosa ferramenta estratégica de aculturamento. Mais do que simples encontros, esses momentos criam espaços de escuta, troca de experiências e reflexões conjuntas sobre, por exemplo, dilemas éticos, que estão muito associados aos possíveis impactos da IA. A vivência presencial favorece a construção de uma consciência coletiva crítica compartilhada de uma maneira mais intensa.
O National Environmental Education Foundation (2023) mostra que eventos ESG corporativos fortalecem o engajamento dos colaboradores e geram conexões mais duradouras entre propósitos sociais e práticas empresariais. De modo similar, relatório da OECD/EU (2024), a partir da Workforce Insights from Central Governments: Findings of the 2024 Survey of Public Servants, evidencia que servidores públicos engajados e com percepção positiva de bem-estar identificam maior alinhamento com os valores da organização, mostrando que iniciativas que vão além da norma — como eventos presenciais, palestras, diálogos internos — influenciam não apenas a satisfação, mas também o comprometimento com metas sociais e institucionais.
Os eventos presenciais desempenham um papel essencial na sensibilização ética sobre o uso da IA, pois criam ambientes de troca, diálogo e engajamento que consolidam a compreensão coletiva sobre os impactos sociais e morais das tecnologias emergentes. Segundo Pessoa (2014), os eventos institucionais funcionam como estratégias comunicativas que aproximam organizações e públicos, permitindo a construção de significados compartilhados e a difusão de valores. Quando orientados pelos princípios ESG, esses encontros tornam-se espaços de prática ética e responsabilidade corporativa, promovendo reflexões sobre transparência, governança de dados e uso responsável da IA. Assim, ao integrar sustentabilidade, inclusão e ética tecnológica, os eventos presenciais consolidam-se como ferramentas de comunicação e educação transformadora, capazes de alinhar inovação e valores humanos.
O Serpro traz esta proposição para a prática, com destaque para a série de eventos voltados ao Projeto ESG Corporativo – Ser ESG, que acontecem no formato presencial em cada uma de suas regionais. É evidente a aderência à proposição de Pessoa (2014): transformação de ações em estratégias comunicativas que fortalecem o diálogo institucional e a construção de valores compartilhados entre organização e públicos externo.
O ESG em Movimento vem se consolidando como uma iniciativa de sucesso e um importante diferencial corporativo, ao promover espaços de diálogo e aprendizado sobre sustentabilidade, ética e inovação. A edição realizada no Rio de Janeiro, nos dias 23 e 24 de outubro, apresentou uma programação diversificada de grande relevância, com destaque para a palestra de abertura de Sérgio Besserman, economista e ambientalista, atual presidente do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que enfatizou a importância da sensibilização para temas socioambientais e do engajamento individual como forma de gerar legitimidade e impacto coletivo. Entre os pontos altos do evento, destacou-se ainda a palestra “A importância dos Estudos Éticos em IA”, dedicada à reflexão sobre o uso responsável da inteligência artificial, reforçando o compromisso da empresa com os princípios ESG e com a promoção de uma cultura organizacional ética e sustentável.
A atividade reuniu empregados de diversas áreas, além de convidados externos, reforçando o caráter aberto e plural da iniciativa. O momento foi marcado por reflexões sobre como a IA pode gerar valor público quando utilizada de forma transparente, responsável e centrada no ser humano. Ao mesmo tempo, foram apresentados riscos associados ao uso indiscriminado dessa tecnologia, como vieses algorítmicos, exclusão digital e ameaças à privacidade.
A escolha pelo formato presencial se mostrou particularmente acertada, pois permitiu que os participantes interagissem diretamente com os palestrantes, compartilhassem dúvidas e construíssem coletivamente alternativas para uma utilização responsável da IA. As conversas informais nos intervalos revelam a força desses encontros na consolidação de uma cultura voltada à ética e à responsabilidade social.
O evento demonstrou que a construção de uma cultura ética no uso da inteligência artificial não se faz apenas por meio de normas e políticas, mas também pela sensibilização contínua, pelo debate aberto e pela aproximação com as pessoas que vivenciam na prática os impactos da tecnologia. Ao investir em encontros que unem informação e diálogo com reflexão crítica, a empresa contribui para consolidar valores que sustentam tanto sua atuação interna quanto sua relação com a sociedade.
Assim, promover eventos presenciais voltados ao ESG e à ética na IA significa cultivar uma cultura que ultrapassa barreiras formais. É transformar princípios em práticas, fortalecer o papel social da empresa pública e reforçar seu compromisso de ser referência em inovação responsável, sempre com o cidadão no centro.
Referências
· National Environmental Education Foundation (NEEF). (2023). What is ESG and How Does it Affect Employee Engagement? Disponível em: https://www.neefusa.org/story/employee-engagement/what-esg-and-how-does-it-affect-employee-engagement. Acesso em: 25 set. 2025.
· OECD/EU. Workforce Insights from Central Governments: Findings of the 2024 Survey of Public Servants. Paris: OECD Publishing, 2025. Disponível em: https://www.oecd.org/en/publications/workforce-insights-from-central-governments_2f9080b1-en.html. Acesso em: 25 set. 2025.
· Pessoa, M. A. R. (2014). Os eventos institucionais como estratégias comunicativas. Comunicologia: Revista de Comunicação e Epistemologia da Universidade Católica de Brasília, 7(2), 182-203. Disponível em: https://portalrevistas.ucb.br/index.php/RCEUCB/article/view/5657/3744. Acesso em: 02 nov. 2025.
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Sobre a autora
Inah Lúcia Barbosa (Tuti) é formada pela PUC/RJ em Análise de Sistemas, possui pós-graduação em Arquitetura de Sistemas pela Estácio de Sá e em Engenharia de Sistemas pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPe). Entrou no Serpro em 1986, trabalhou com desenvolvimento de sistemas e na área de negócio, atendendo ao cliente Receita Federal, com participação em projetos inovadores da empresa. Com vasta experiência em gestão de projetos, área que atua desde 1997, se especializou em projetos de normatização, sistemáticas e padronização com equipes multidisciplinares. Atualmente integra equipe de gestores do Departamento de Suporte a Governança e Gestão do Desenvolvimento, sendo responsável, pela Governança de Dados e de IA e Ética no Tratamento de Dados. Coordenadora do Comitê de Governança de IA do Serpro. Atua no Projeto Ser ESG, na dimensão Impacto Social nos Negócios, coordenando as entregas do tema IA Responsável.