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Inteligência artificial e deep fake: a nova fronteira na prevenção a fraudes

crédito imagem: Freepik
A crescente sofisticação dos golpes digitais e fraudes cibernéticas representa uma ameaça crescente à segurança dos sistemas digitais, afetando diversos setores. Em resposta a esses desafios, empresas e organizações têm investido em soluções tecnológicas avançadas, destacando-se a inteligência artificial (IA) e sua aplicação na detecção de conteúdos falsificados, como os deepfakes.
Em janeiro de 2025, a Serasa Experian registrou 1,242 milhão de tentativas de fraude no Brasil, o maior número desde o início da série histórica do indicador. Esse aumento expressivo demonstra a necessidade urgente de adotar tecnologias integradas e soluções proativas para combater essas fraudes, tornando a segurança digital uma prioridade estratégica nas organizações.
O papel da IA na segurança digital
A IA vem revolucionando a segurança cibernética ao oferecer soluções que analisam padrões comportamentais, identificam anomalias e detectam tentativas de fraudes em tempo real. Técnicas como o aprendizado de máquina (machine learning) e o aprendizado profundo (deep learning) permitem que os sistemas reconheçam atividades suspeitas com alta precisão, contribuindo significativamente para a prevenção de fraudes.
A manipulação de imagens por meio da inteligência artificial tem avançado de forma notável nos últimos anos, alcançando níveis de realismo cada vez mais impressionantes aos olhos humanos. A melhor forma de prevenir esse ataque é utilizar a mesma tecnologia para detectar manipulações, exigindo monitoramento constante das validações para identificar novos padrões de ataque e o treinamento de modelos mais sofisticados. O Serpro investe na criação de modelos de IA especializados na detecção de deepfakes.
Liveness: proteção contra deepfakes
A solução de liveness, também conhecida como prova de vida, garante que a captura biométrica seja feita a partir de uma pessoa real e não por meio de artefato inanimado como imagens, vídeos ou até mesmo máscaras físicas realistas ou digitais.
O uso dessa solução permite analisar micromovimentos, texturas, variações de cor e frequência das imagens coletadas, além das diferenças no fluxo óptico gerado — inclusive realizando coletas e análises de múltiplos frames em uma única validação — para identificar sinais de autenticidade humana.
A combinação de múltiplas técnicas de segurança em uma única jornada de validação é essencial para garantir maior proteção nas transações. A integração de múltiplas análises torna essa abordagem mais segura e eficaz na detecção de fraudes, em comparação ao uso de uma única técnica.
Outro ponto que deve ser amplamente discutido é a garantia de que o indivíduo real — o usuário de boa-fé — consiga acessar a solução e seguir o fluxo de validação de forma segura. Pontos de segurança devem ser criteriosamente implementados para restringir o acesso do fraudador.
Análise comportamental: protegendo com identidade digital
Uma abordagem inovadora para combater fraudes é a análise comportamental. Através dela é possível criar uma identidade digital baseada em padrões de uso, como a maneira de segurar e operar o celular, a forma de movimentar o cursor ou o estilo de digitação em teclados físicos. Assim, a inteligência artificial consegue identificar comportamentos atípicos, indicando possíveis fraudes.
Ao mesmo tempo em que bloqueia atividades suspeitas de forma rápida e eficiente, a solução proporciona uma autenticação contínua e discreta, garantindo uma experiência fluida e sem obstáculos para o usuário legítimo. Seu uso representa um avanço significativo em relação aos meios tradicionais, como senhas e tokens.
Além disso, a análise de registros e o monitoramento em tempo real dos fluxos de negócios são fundamentais para identificar atividades fora do padrão. Algoritmos de machine learning geram alertas automáticos sempre que comportamentos anômalos são detectados, permitindo a adoção imediata de medidas preventivas. Esse monitoramento proativo é essencial para evitar fraudes antes que causem danos significativos, protegendo tanto as instituições quanto seus clientes.
O futuro do combate às fraudes com IA
A rápida evolução das fraudes digitais exige inovação constante nas soluções de segurança, sendo a inteligência artificial uma ferramenta essencial na luta contra ataques cada vez mais sofisticados, como os deepfakes. Soluções como liveness, análise comportamental e validações multibiométricas se tornaram não apenas diferenciais, mas uma necessidade urgente para proteger a confiança dos cidadãos e a integridade dos sistemas digitais. O investimento contínuo em tecnologia, aliado à capacitação das equipes antifraude, é imprescindível para garantir a segurança no futuro.
Em um cenário onde os fraudadores estão cada vez mais criativos e sofisticados, a combinação de IA com estratégias de prevenção proativas emerge como a principal linha de defesa. Essa sinergia não só assegura a proteção de dados e sistemas, mas também fortalece a confiança do usuário, seja no setor financeiro, público ou privado.
Nesse contexto, o Serpro desempenha um papel estratégico fundamental na transformação do Estado brasileiro, oferecendo soluções tecnológicas inovadoras que garantem a integridade das políticas públicas, protegem os dados dos cidadãos e fortalecem a soberania digital do país. A evolução contínua e o aprimoramento das tecnologias de combate à fraude são vitais para a construção de um futuro digital mais seguro, e sua implementação eficaz será decisiva para o sucesso das políticas de segurança no Brasil e no mundo.
Referências
SERASA EXPERIAN. Brasil tem recorde nas tentativas de fraude registradas em janeiro, aponta Serasa Experian. Disponível em: https://www.serasaexperian.com.br/sala-de-imprensa/indicadores/brasil-tem-recorde-nas-tentativas-de-fraude-registradas-em-janeiro-aponta-serasa-experian. Acesso em: 19 maio 2025.
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Sobre os autores
Débora Sirotheau é gerente do Departamento de Combate à Fraude Cibernética do Serpro. Analista de TI com pós-graduação em redes de computadores pela UFPA. Advogada pós-graduada em Privacidade e Proteção de Dados Pessoais pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e pela Escola Superior do Ministério Público do RS.Certificada CIPM E CDPO/BR pela IAPP. Certificada NIST CSF 2.0 e NIST RMF. Conselheira titular do CNPD/ANPD. Vice-Presidente da Comissão Especial de Proteção de Dados da OAB Nacional. Palestrante. Professora convidada de proteção de dados em cursos de pós-graduação.
Carlos Rodrigo Fonseca Lima é especialista em Inteligência Artificial pela PUC-MG (2021), em Modelagem de Negócios pela UFRGS (2013) e em Redes e Telecomunicações pela UFMG (2003). Desde 2018 dedica-se exclusivamente ao desenvolvimento de soluções Inteligência Artificial e aprendizado de máquina. Atualmente coordena o Centro de Excelência de Ciência de Dados e Inteligência Artificial do Serpro, gerenciando equipes de especialistas nas mais diversas áreas, dentre elas: IA Generativa, PLN, Visão Computacional, Biometria, Modelagem Preditiva e Antifraude.
Ieda Maria de Souza lidera a Divisão de Governança para Combate à Fraude Cibernética no Serpro. É graduada em Administração de Redes; pós-graduada em Segurança da Informação e Governança de Tecnologia da Informação pela Universidade do Sul de Santa Catarina, pós-graduada em Cibersegurança e Governança de Dados e possui MBA em Liderança e Gestão de Equipes.