Notícia
Futuro
Especialistas discutem oportunidades e riscos da inteligência artificial para o Brasil

Em um momento em que a inteligência artificial redefine parâmetros de poder global, especialistas e gestores públicos se reuniram na Escola Nacional de Administração Pública (Enap) para discutir como o Brasil pode garantir soberania tecnológica e construir uma infraestrutura capaz de sustentar o uso seguro e estratégico da IA nos próximos anos.
Na abertura do encontro, a mediadora, Patrícia Baldez, Coordenadora-Geral do Laboratório de Inovação em Inteligência Artificial do Governo Federal (Enap), destacou a importância do tema no atual cenário global e reforçou que a IA deixou de ser percebida como ficção científica. “É presente, é estrutura e é política pública”, enfatizou.
Em seguida, o professor e pesquisador da PUC-SP, Diogo Cortiz, apresentou um panorama sobre a disputa global pelo domínio da inteligência artificial, reforçando que o eixo do poder mundial se desloca cada vez mais para o campo tecnológico. Ele analisou a dualidade entre Estados Unidos e China, países que concentram infraestrutura, capital, pesquisadores e a cadeia produtiva vinculada à IA.
Segundo Cortiz, a IA cria uma infraestrutura que habilita novas inovações, impactando todos os setores da economia. “Espera-se que a IA, eleve a produtividade e equalize a distribuição de poder, que atualmente se concentra nos Estados Unidos e na China”, pontuou.
Infraestrutura digital, REdata e soberania tecnológica
A discussão avançou sobre os desafios do Brasil na construção de uma infraestrutura de dados robusta. Um dos pontos abordados foi o Regime Especial de Tributação para Serviços de Datacenter (REdata), política que incentiva a instalação de data centers no país, exigindo investimentos em pesquisa e desenvolvimento.
Sergio Kamache, assessor da Diretoria de Negócios Econômico-Fazendários do Serpro, ressaltou que a IA depende diretamente de grandes volumes de dados, energia e capacidade de processamento, elementos que tornam os data centers ativos estratégicos. “Sem infraestrutura soberana, o país permanece dependente de fornecedores estrangeiros e mais vulnerável a cenários internacionais instáveis”, afirmou.
Kamache também destacou que a soberania tecnológica envolve desafios econômicos, emocionais e geopolíticos. Para ele, fortalecer a infraestrutura pública e segura é essencial para garantir soluções alinhadas às necessidades do governo e da sociedade.
O representante do Serpro destacou ainda que países do Sul Global compartilham desafios estruturais semelhantes, como a dependência de insumos externos. Entretanto, avaliou o assessor, iniciativas como o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial apontam caminhos para desenvolver competências nacionais e reduzir vulnerabilidades.
Formação, políticas públicas e desafios para 2026
Os palestrantes também abordaram a importância da formação técnica, da educação digital e da pesquisa acadêmica, com comparações entre modelos internacionais. Os especialistas reforçaram que países que avançaram em IA investiram fortemente em capacitação desde a base, integrando ensino, governo e setor privado.
O debate concluiu que 2026 será um marco para consolidação da IA no Brasil. Para que o país avance de forma estruturada, será necessário fortalecer a infraestrutura nacional de dados, ampliando a capacidade tecnológica com foco em soberania digital. Outro ponto central será a capacitação de servidores públicos, considerada essencial para garantir o uso seguro, responsável e eficiente das soluções de IA no setor público.
Os participantes chamaram atenção ainda para desafios emergentes, como o apego emocional criado por usuários a sistemas de IA, os riscos de desinformação e a crescente dificuldade de distinguir conteúdos autênticos de produções sintéticas. O tema ganha relevância especial em 2026, ano eleitoral, quando o combate às fake news se torna ainda mais crítico.
O evento
Promovido pela Enap nesta segunda-feira, 2 de dezembro, o painel “Geopolítica da Inteligência Artificial: Oportunidades e Riscos para o Brasil em 2026”, reuniu especialistas, gestores públicos e pesquisadores para discutir o posicionamento estratégico do país na corrida global pela IA. O evento, transmitido pelo canal da Enap no YouTube, aprofundou debates sobre soberania digital, infraestrutura crítica, formação profissional e impacto geopolítico das novas tecnologias. Confira o debate no vídeo abaixo.