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A verdade sobre as velocidades de conexões banda larga
Suponha que você tenha ido ao supermercado comprar um quilo de carne para o jantar e, quando chega em casa, nota que o pacote está muito leve. Você volta ao estabelecimento e reclama com o gerente, só para ouvir que o rótulo diz "no máximo um quilo” e que o jeito é se conformar com isso.
Qualquer um ficaria furioso. Mas este estratagema aparentemente ridículo é usado todo dia por provedores de banda larga em todo o país. Não acredita? Verifique seu contrato. No meu caso, a AT&T diz que posso ter velocidades de download de “até” 3 Mbps, e upload de “até” 384 Kbps. O que eu tenho? Velocidades de download que, na média, são cerca de 15% mais lentas, dependendo da hora do dia, e velocidades de upload que são mais ou menos como prometido.
Você pode fazer as contas. Um arquivo grande, como um álbum de fotos ou um backup, que leva 120 minutos para baixar a 3 Mbps, tomará mais 17 minutos a 2,5 Mbps, que é a velocidade real da minha rede.
Ok, talvez não seja o maior problema do mundo, mas por que eu deveria esperar 17 minutos a mais se eu pensava ter pago para evitar isso? E, como descobri, ainda tenho sorte. Muitos consumidores conseguem apenas 50% da velocidade que eles imaginavam ter contratado.
Se nós estivéssemos falando de qualquer outro serviço para o consumidor, você teria a chance de fazer negócio com um concorrente. Mas não em banda larga. Segundo Chris Riley, conselheiro de políticas do gupo de defesa do consumidor Freepress, “96% dos EUA têm no máximo duas escolhas para banda larga”.
Os EUA não sofrem apenas com a ausência de um padrão para um serviço aceitável de banda larga; não há sequer uma definição padrão do que seja banda larga. A FCC tem começado a coletar dados sobre velocidades de conexão por todo o país, como parte do Plano Nacional de Banda Larga. É uma boa ideia, mas ei, é 2010! Por que já não temos essa informação? Por que, como aponta Eric London, da Open Internet Coalition, os provedores de internet podem chamar de banda larga conexões de 90 kbps?
A taxa de 90 kbps soa como relíquia da época de modems analógicos, mas de fato essa é a velocidade que você tem com seu iPhone quando é forçado a se conectar à esclerótica e quase inútil rede Edge da AT&T.
Meta para 2020
Autorizado pelo Congresso americano, o Plano de Banda Larga define inúmeros objetivos para a infraestrutura de dados dos EUA. A mais notável delas promete acesso de 100 Mbps para a maior parte do país em 2020. Para atingir essa meta, a velocidade média das conexões no país deverá ser multiplicada por cinco.
Os dados estão incompletos, mas a FCC cita pesquisas privadas que indicam que os clientes de banda larga não estão recebendo a conexão pela qual pagaram. De fato, os assinantes estão, em média, experimentando velocidades de download que são aproximadamente 40% a 50% inferiores àquelas anunciadas como “até” pelas quais pagaram. As velocidades de upload giram em torno de 45% da anunciada. Tudo indica que a média real de velocidade de download é de 4,1 Mbps.
“Não há desculpa para a indústria usar velocidades com a expressão ‘até’”, disse Joe Ridout, da Consumer Action. “Isso é inútil para os consumidores. A FCC deveria exigir o uso de velocidades médias.”
Marketing tendencioso
O triste é que o marketing tendencioso dos serviços de banda larga não é o único jogo de números projetado para iludir os consumidores. Impressoras são comercializadas como capazes de imprimir “até” um certo número de páginas por minuto – uma velocidade que raramente pode ser atingida no mundo real. De forma similar, os caros cartuchos de tinta são comercializados da mesma forma, e se você pensa que é difícil notar quão rápido sua impressora imprime, tente manter o controle de quantas páginas você consegue obter com um jogo de cartuchos.
Com PCs e câmeras, as coisas são um pouco diferentes. Se a Intel diz que um chip funciona a 1,63 GHz, ele provavelmente o fará. Se sua câmera foi projetada para uma resolução de 10 Mpixels, é o que você terá. No entanto, tem levado um longo tempo para os consumidores olharem por trás desses números e entenderem o que eles realmente significam. Como muitos de nós aprenderam, as velocidades de CPU e os megapixels, por eles mesmos, dizem muito pouco sobre o desempenho de um PC ou a qualidade de uma foto digital no mundo real.
Infelizmente, há questões reais sobre a confiabilidade dos testes de download e de upload. As velocidades de conexão caem drasticamente perto da hora do jantar na maior parte dos EUA, que é quando os consumidores entram na internet.
E os testes são frequentemente inconsistentes. A FCC, por exemplo, tem usado dois provedores: Ookla e M-Lab. Nos testes da minha conexão DSL, eu vi variações relativamente menores nos resultados entre os dois serviços, mas outros mostraram profundas diferenças.
Em um artigo publicado recentemente no Los Angeles Times, o jornalista David Lazarus disse que sua conexão de cabo foi medida por um dos serviços da FCC e atingiu 18 Mbps; alguns segundos depois, a outra reportava velocidade de 6 Mbps. E se você usa um dos inúmeros testes de velocidade em sites privados, sabe que os números podem resultar em qualquer coisa. Minha conexão de 2,5 Mbps (de acordo com a Ookla) caiu para 1,16 Mbps quando medido pelo Shopper.com da Cnet.
E você pensava que seu açougueiro é quem tinha um dedo pesado.
(IDG Now! - Internet/Banda Larga - por Bill Snyder, da CIO/EUA - 14/4/10)