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Abram-se os dados
Um dos argumentos que Tim Bernes-Lee e Nigel Shadbolt utilizaram para convencer o governo do Reino Unido a investir pesado em um programa de dados abertos foi a possibilidade de sair na frente de outros países, e, em especial, dos Estados Unidos. “Colaborar é ótimo, mas uma boa disputa é sempre um estímulo interessante”, brincou Shadbolt ao se dirigir à plateia do Consegi, um reconhecido nicho de aficionados em colaboracionismo.
“O apoio da autoridade política, seja do prefeito ou do presidente, é sempre fundamental, disse Shadbolt. Na última palestra realizada no IV Congresso Internacional de Software Livre e Governo Eletrônico, dia 13, ele elencou sete argumentos para convencer autoridades de que liberar dados é bom negócio – em alguns aspectos literalmente. Confira argumentos que Shadbolt indica para convencer governos a abrirem dados públicos.
1-Aumento de transparência
Claro que nem sempre os políticos gostam dessa ideia em um primeiro momento. Mas se o governo for suficientemente corajoso para implantar o projeto, haverá ganho de imagem com isso. E os adversários, mesmo que os sucedam, dificilmente poderão derrubar esse programa.
2-Impulso econômico
Com os dados públicos disponíveis, a iniciativa privada pode oferecer novos serviços, inclusive os de “inteligência comercial”: empresas especializadas em interpretar dados que tenham relevância para outras empresas.
3-Melhoria da qualidade de serviços públicos
Foi o principal atrativo para o primeiro-ministro britânico Gordon Brown. Nos sistemas de saúde é sempre um desafio mensurar a qualidade dos serviços prestados, ou mapear os hospitais onde ocorrem mais infecções, principal causa de morte entre os idosos no Reino Unido. Mas é preciso cuidado: na mensuração dos ataques cardíacos por localidade realizada no Reino Unido, os hospitais especializados em cardiologia naturalmente acabavam contribuindo com um maior número de mortes por essa causa, na região em que se localizam. Os dados não podem ser interpretados na superfície, mas são um poderoso instrumento de avaliação e aprimoramento de serviços.
4-Atender a um direito do eleitor
O cidadão deve receber pelo que paga. Um dos componentes dos impostos é o financiamento de coleta de dados para aprimorar gestão pública, como os censos populacionais. Oferecer mais informação é uma forma de devolver melhores serviços públicos a quem os consome.
5-Apoio da população para refinar dados de interesse público
Os próprios habitantes podem colaborar para aprimorar os dados, fazendo um trabalho que, feito pela máquina pública, seria muito mais caro e certamente menos eficiente. No Reino Unido, havia o registro de 360 mil pontos de ônibus. Quando esses dados ficaram disponíveis para outras unidades administrativas, percebeu-se que 6% dos pontos – 18 mil deles – não estavam onde deveriam estar, segundo os registros públicos. A solução: publicar os dados em um sítio interativo e pedir que os moradores inserissem a localização correta dos pontos. Rapidamente a localização da paradas de ônibus foi atualizada.
6-Estimular a economia de dinheiro público
A publicação de gastos públicos pode ser muito mais eficiente do que campanhas para a redução de consumo. No Reino Unido, foram publicados gráficos atualizados em tempo real, sobre o consumo de eletricidade em vários prédios públicos. A simples publicação dos dados fez com que o gráfico se alterasse bruscamente em apenas dois dias: as pessoas localizavam que sua região estava gastando muito mais, e, espontanemanete, reduziam o desperdício.
7-Localização de distúrbios sociais
Comportamento antissocial, alcoolismo, criminalidade, horário de fechamento de pubs, essas são informações importantes para os habitantes do Reino Unido. Outras localidades acharão rapidamente os dados relevantes para o bem-estar de seus habitantes, e a abertura de dados facilitará a localização de distúrbios e a proposta de soluções.
Shadbolt ressalva que é o mais importante é liberar os dados, e deve-se fazer esforço para que sejam abertos os dados relevantes. “Não faz sentido se empenhar em desenvolver aplicações para eles - elas chegarão via comunidade. Às vezes em mais, às vezes em menos tempo. Mas chegarão, e muitas vão surpreender pela criatividade”, sentencia.
Comunicação Social do Serpro - Brasília, 16 de maio de 2011