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Confira o discurso do Dr. Nechar em homenagem aos 43 anos do Serpro
Exmo Sr. Presidente da Câmara, Deputado Arlindo Chinaglia, Ilustríssimo Sr. Presidente do SERPRO, Marcos Vinícius Ferreira Mazoni, caros colegas Deputadas e Deputados, prezadíssimos Diretores, colaboradores e amigos do SERPRO, senhoras e senhores.
É da tradição desta casa a instalação de sessões solenes para prestar homenagens a instituições e personalidades que se destacam pelos seus feitos, principalmente aquelas que contribuem com a consolidação da democracia, com o desenvolvimento econômico e social, com as artes, com a cultura e com o progresso da ciência e da tecnologia.
Como membro titular da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, tenho acompanhado as questões referentes à informática pública, encontrando, não raramente, a presença do SERPRO em várias referências e citações nas matérias às quais dedico estudos. Tal constância me levou a compreender a importância dessa instituição no cenário do desenvolvimento da informática pública brasileira, obtendo a certeza de que o SERPRO, por seu histórico e atuação, colecionava méritos dignos de homenagens públicas. Assim sendo, decidi requerer à Mesa Diretora desta Casa a convocação de sessão solene da Câmara dos Deputados em homenagem ao 43º aniversário do Serviço Federal de Processamento de Dados – SERPRO.
Por ser autor do requerimento, fui incumbido pelo Presidente Arlindo Chinaglia da honrosa tarefa de proferir este discurso de homenagem, o que faço com grande prazer.
Antes de escrever este discurso, preocupei-me em reconstruir a linha do tempo na qual se insere a trajetória histórica do SERPRO, tendo como referência inicial a história do computador. Confesso que foi uma viagem fantástica – usar um computador pessoal para descobrir as pegadas dos ancestrais da avançada computação dos dias de hoje.
“Navegando” na história, encontrei marcos de referência importantes. Do ábaco de 200 anos antes de cristo aos “pocket-computers” de hoje, encontro o SERPRO recebendo em 1965 a sua primeira máquina, um IBM1401 de segunda geração com lógica de transistores, um dos primeiros computadores de uso comercial do mundo. Isso aconteceu menos de 20 anos depois da IBM lançar o seu primeiro computador a válvulas, o legendário ENIAC, que só servia a aplicações militares e científicas.
Nesse breve “passeio pela história” não resisti à tentação de me situar nessa linha de tempo, buscando as memórias da minha juventude na minha então pacata e bucólica cidade de Marília.
Dessas reminiscências, constato hoje um paradoxo: tínhamos na região muitos imigrantes japoneses, na sua grande maioria agricultores.
Aos sábados eu acostumava acompanhar a minha mãe nas feiras e lá eu ficava extasiado ao ver os feirantes japoneses manipulando, com grande rapidez e habilidade, um pequeno bastidor de madeira com contas coloridas. Era o soroban, uma versão oriental do ábaco, que hoje sei ser o precursor da máquina de Leibnitz, o “tataravô” de todos os computadores. O paradoxo é temporal – eu não sabia, porém mais de 2.000 anos separavam o Rio de Janeiro, onde se instalava no SERPRO o IBM1401, de uma singela banca de feira em Piracicaba!
Éramos ainda muito jovens no início década de 60. Naqueles “anos dourados” ouvíamos falar dos “cérebros eletrônicos”, gigantescas engenhocas cheias de válvulas e luzes piscantes, cercadas de cientistas com jalecos brancos que falavam uma linguagem hermética só entendida pela sua restrita “tribo”. Muito se especulava sobre os “cérebros”. Alguns, mais messiânicos, acreditavam que essas máquinas viriam a dominar a humanidade.
Já nos meados dos anos sessenta, quando os “anos dourados” perderam o brilho e se transformaram em “anos de chumbo”, o “cérebro”, já chamado de computador, turbinado por “chips” na sua segunda geração, chegou ao Brasil, fazendo acalorar o debate sobre a ameaçadora influência dessas máquinas sobre os seres humanos, podendo substituí-los em algumas atividades intelectuais, principalmente nas que demandavam habilidades de cálculos matemáticos, causando arrepios nos estudantes de engenharia, que ostentavam nos bolsos das camisas suas réguas de cálculo, como ícones da sua profissão tecnológica.
Um retrato dessa preocupação da época foi feito pelo nosso amigo Ministro, compositor e cantor Gilberto Gil, já no início dos anos 70, na sua canção “Cérebro Eletrônico”, onde, sem se dar conta do futuro que o esperava, dizia:
O cérebro eletrônico faz tudo
Faz quase tudo
Quase tudo
Mas ele é mudo
O cérebro eletrônico comanda
Manda e desmanda
Ele é quem manda
Mas ele não anda
...
E sei
Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro
Com seus botões de ferro e seus olhos de vidro
Mal sabia o jovem Gil que um dia o computador, além de tratar e armazenar dados, seria capaz de escrever, falar, desenhar e tocar as suas canções, e que ainda seria uma janela aberta para o mundo. Muito menos imaginava que um dia ele seria Ministro da Cultura de um governo comandado por um operário e que, para a sua perfeita gestão, necessitaria do socorro dos “botões de ferro e olhos de vidro” dos computadores do SERPRO.
Colocando as reminiscências e nostalgias à parte, ao analisarmos a trajetória do SERPRO nesses seus 43 anos de existência, constatamos que o seu enorme progresso se confunde com a evolução tecnológica havida nessas quatro últimas décadas no campo da informática pública, sendo parte importante da história recente da república.
Nessa sua exitosa marcha, o SERPRO, por intermédio das suas soluções tecnológicas, tem estabelecido um novo e democrático padrão de relacionamento do cidadão com o Estado, disponibilizando facilidades de acesso às informações, oferecendo ao público vários mecanismos de interação, promovendo grande agilidade na condução dos processos da administração federal e, acima de tudo, propiciando uma excepcional visibilidade e transparência aos atos de governo.
Somos testemunhas da estreita ligação existente entre as soluções do SERPRO e a modernização da administração pública. As evidências aí estão no nosso dia-a-dia, como simples cidadãos, como políticos, governantes, administradores públicos ou profissionais responsáveis por qualquer segmento de aplicação da informática pública.
Graças ao SERPRO o Brasil é, privilegiadamente, um dos poucos países do mundo que controlam todas as operações financeiras do tesouro em conta única. Causa inveja aos cidadãos de outros países o simples fato de fazermos nossa declaração de renda no conforto dos nossos lares ou dos nossos escritórios, sem interferência e intermediação de terceiros, transmitindo-a rápida e confiavelmente pela internet.
Mediante a dedicação, competência e sólida formação técnico-profissional dos seus colaboradores, o SERPRO se consolidou ao longo de sua existência como um celeiro de conhecimentos, baseados em tecnologias da informação e comunicações que permitiram a construção de soluções específicas, voltadas à gestão dos negócios do Estado, todas elas integradoras e, principalmente, facilitadoras da interação dos cidadãos com seus governantes.
Dentre centenas de aplicações destinadas à gestão pública desenvolvidas pelo SERPRO, podemos destacar o Sistema de Administração Financeira (Siafi), que controla o orçamento da União, o ComprasNet, que ajuda o governo a comprar melhor e o Siscomex, que atende à área de Comércio Exterior, soluções essas que fazem parte de uma pluralidade de tecnologias inovadoras desenvolvidas e mantidas pelo SERPRO, que são o “sonho de consumo” de uma grande parte dos governantes do mundo.
Mesmo comemorando grandes vitórias, esses valorosos trabalhadores da tecnologia têm a consciência que ainda há muito o que fazer, para que tenhamos uma informática pública compatível com as necessidades do Estado brasileiro.
Sabemos que boa parte do que está por vir encontra-se ainda no estado-da-arte nos laboratórios do SERPRO, a exemplo do Sistema Público de Escrituração Digital, que irá revolucionar os procedimentos fiscais e criar uma nova relação entre as administrações fazendárias e o setor produtivo no Brasil; o Sistema de Portos – Sisportos, que permitirá a comunicação entre as autoridades portuárias e bancos de dados do Ministério da Fazenda e da Receita Federal; e o Siscomex Carga, que fornecerá informações precisas à Receita Federal, através de documentos eletrônicos sobre as cargas dos navios, antes mesmo de desembarcarem no Brasil.
Do ponto de vista institucional, é rotina para o SERPRO frequentar os catálogos dos melhores e maiores do mundo.
Em 2007, recebeu, pelo segundo ano consecutivo, o Prêmio de empresa campeã no Setor de Tecnologia da Informação, promovido pelo jornal Valor Econômico, e o Prêmio Destaque do Ano no Segmento Serviços, promovido pela Revista Informática Hoje.
No campo da gestão tecnológica e da qualidade, obteve certificados internacionais invejáveis, a exemplo da certificação da norma britânica BS-7999 de gestão de segurança da informação, sendo a primeira empresa de governo da América Latina a receber esse reconhecimento. O SERPRO também é detentor de cobiçada credencial internacional de segurança da informação conferida pela ISO/IEC 27001, demonstrando, ao mercado internacional, que a instituição trabalha a questão da segurança com seriedade, transparência e comprometimento.
Ciente de seu papel social como empresa e como órgão público, o SERPRO busca, diariamente, se consolidar como uma organização socialmente responsável, com um grande engajamento voluntário dos seus colaboradores em atividades solidárias de promoção da acessibilidade; programas de alfabetização e de ações de proteção do meio ambiente. Dessas iniciativas, evidencio as de inclusão digital, onde o SERPRO tem atuado, principalmente, com a instalação e consolidação de telecentros. Em todo o país a Empresa já apoiou a instalação de mais de 100 telecentros sempre voltados para o atendimento de comunidades carentes.
Esta é, senhor Presidente e caros colegas, uma síntese da grande trajetória do SERPRO, uma instituição pública modelar que evoluiu do “cérebro eletrônico” à era da grande rede mundial.
A propósito do tema “evolução”, como cientista não posso me furtar à oportunidade de comparar o SERPRO aos organismos vivos, e, ao fazê-lo, citar a máxima evolucionista de Charles Darwin:
“Não é o mais forte da espécie que sobrevive, nem o mais inteligente; mas sim, o que melhor se adapta às mudanças.”
Essa frase, ao ser transposta do campo da biologia para as organizações da sociedade, reflete, com muita propriedade, os 43 anos de existência do SERPRO, uma instituição que acompanhou todas as “ondas” tecnológicas, sobreviveu a todas as crises do Estado e resistiu a todas as tentativas de desmonte e privatização às quais foi exposto.
Voltando ao tema inicial deste discurso, ao contrário do que cantava Gil nos idos de 70, hoje são os “cérebros humanos” do SERPRO que “comandam e mandam” nos “cérebros eletrônicos”, são homens e mulheres que, ao escolherem a Tecnologia da Informação como seu ambiente e profissão fazem o saber e sabem fazer, engrandecendo a ciência brasileira.
Concluindo ainda sobre “cérebros”, posso falar com a autoridade de cirurgião especialista em cabeça e pescoço: os conheço pessoalmente e sempre me encontro com eles nos meus atos cirúrgicos. Em geral são acinzentados, porém, se algum dia eu me defrontar com um brilhante cérebro verde e amarelo, não terei dúvidas em afirmar: este paciente é do SERPRO!
Nossos cumprimentos calorosos a todos os colaboradores do SERPRO, na pessoa do Sr. Marcus Vinícius Ferreira Manzoni, seu ilustre Presidente, aproveitando para ressaltar, mais uma vez, a excelência tecnológica e competência profissional dessa Empresa Pública ímpar, nossa homenageada, na condução das atividades de informática pública do nosso país, sempre em favor dos interesses mais legítimos do Estado e do povo brasileiro e da consolidação de nossa democracia.
Parabéns ao SERPRO, parabéns ao Brasil por ter o SERPRO!
Muito obrigado.
Comunicação Social do Serpro, 17 de dezembro de 2007