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Projetos buscam inserir jovens no mercado
A resposta veio em forma de bits. “Fiz um curso de informática básica na escola pública em que estudava em Santo Amaro e depois de montagem de micros no telecentro Trajetória Mundial. Foi quando me deu o estalo. Estava ali a minha chance de adquirir conhecimento e mudar de vida”, conta Jamerson, que não parou mais de buscar especialização. “Principalmente no Linux, porque pouca gente sabe.”
As oportunidades não tardaram a chegar. Hoje, Jamerson é funcionário do Espaço Ciência como técnico em software livre e monitor de astronomia. “No próximo ano quero fazer vestibular para engenharia da computação e dar aula, para dividir o que aprendi com outras pessoas”, planeja. David Pereira, 29, morador da comunidade do Alto José Bonifácio trilhou um caminho semelhante. Também percebeu um filão no domínio do Linux e da manutenção de hardware e fez disso um ofício. “Fui chamado para trabalhar em uma faculdade como auxiliar técnico. Se não fosse o telecentro, não teria hoje uma profissão”, afirma.
Para o presidente do Comitê para Democratização da Internet em Pernambuco (CDI-PE), Marcelo Fernandes, histórias como a de Jamerson e a de David são a prova de que o modelo dos programas de inclusão digital precisa ser revisto. Na opinião dele, é necessário ir além dos cursos básicos e do acesso à web. “A fase da alfabetização digital passou. Os jovens cobram agora ações focadas no mercado de trabalho. De nada adianta montar telecentros se eles não estiverem associados a uma proposta pedagógica”, defende Fernandes, revelando que o CDI passa por um processo de “reinvenção”, para atender a essa nova demanda.
Muitas vezes é o próprio telecentro que possibilita a iniciação profissional dos jovens. Foi o que aconteceu com Arthur de Miranda, 18, que começou fazendo um curso de manutenção de PCs pelo Serpro, tornou-se instrutor do telecentro do Mvimento Tortura Nunca Mais e, em seguida, foi contratado. “A informática me fez evoluir. Não sei se teria tanto êxito sem ela.” Atualmente, ele participa do curso de formação de capacitadores do programa EnterJovem, que pretende preparar 192 estudantes das comunidades de Vietnã, Vila Arraes, Bongi, Mustardinha, Roda de Fogo, San Martin e Mangueira para o primeiro emprego, usando a tecnologia da informação como meio.
O programa é fruto de uma parceria do Tortura Nunca Mais com o Instituto Empreender, a agência norte-americana Usaid e Governo do Estado. “Serão 300 horas de aulas, em que os educandos aprenderão, por exemplo, o que é marketing, como se comportar no ambiente de trabalho e quais os direitos e deveres de empregados e patrões. Depois das discussões, eles irão elaborar no PC um panfleto ou uma apresentação”, detalha a responsável pela capacitação e formação continuada do EnterJovem, Telkia Rios.
De acordo com as metas do projeto, pelo menos 40% dos jovens, que recebem bolsa de R$ 120 durante o curso, deverão ser inseridos no mercado através da articulação com empresários locais. “Os demais ficam em um banco de oportunidades”, explica Telkia, lembrando que a metodologia é livre para ser replicada.
A informática também atua como coadjuvante nos cursos de profissionalização em auxiliar de escritório e recepcionista oferecidos pelo Telecentro Capiba, no bairro de Casa Amarela. “Os softwares são usados para executar as tarefas sugeridas, não como um fim em si mesmos. Da primeira turma, já temos duas alunas que conseguiram emprego”, conta a presidente da entidade, Telma Andrade. Não é por outro motivo que os cursos estão sempre lotados.
Jornal do Commercio – PE, Mona Lisa Dourado, 24 de outubro de 2007