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Internet precisa do Ipv6 para continuar sua expansão
O IP (Internet Protocol), mais precisamente o IP versão 4, ou IPv4, é a base sobre a qual a internet é construída. Contudo, seus endereços livres estão se acabando e as previsões indicam que eles se esgotariam ainda em 2010. Sem novos números IP, seria muito complicado conectar novos usuários à internet. Assim, o crescimento da rede ficaria prejudicado e a democracia digital de que tanto se fala atualmente, não seria plenamente exercida.
Solução
A versão mais atual do protocolo internet é o IPv6, criado para substituir o IPv4. Seu desenvolvimento iniciou-se em 1992, motivado pelo rápido esgotamento dos endereços IPv4 livres. Para isso, foi criado o grupo IPng (Intenet Protocol New Generation) no IETF (internet Engineering Task Force), que concluiu em 1998 o projeto e o padronizou na RFC 2460, um conjunto de documentos de referência que descrevem, especificam, ajudam a aplicação, estandardizam e debatem a maioria das normas e padrões de tecnologias e protocolos ligados à internet e às redes em geral. Desde então, vem sendo implantado gradativamente na internet.
O IPv6 traz para a internet um espaço de endereçamento capaz de suportar seu crescimento indefinidamente ou, pelo menos, que suporte o que se consegue imaginar até agora. Além de resolver o problema de espaço, o novo protocolo também apresenta avanços em áreas como segurança, mobilidade e desempenho. Especialistas preveem que ambos, IPv4 e IPv6, funcionem lado a lado na internet por muitos anos. Mas, a longo prazo, o IPv6 substituirá o IPv4.
Crucial para a inclusão digital
Para Antônio Moreiras, coordenador de Projetos do Ceptro.br, a implantação do IPv6 nas redes e na internet brasileira é de suma importância. “Sem o IPv6 corremos o risco de ficar isolados de parte da internet. Sem ele ficará difícil levar a inclusão digital a seu melhor termo, pois faltarão endereços. Sem ele não nos beneficiaremos de novas aplicações na rede. E a disseminação de tecnologias emergentes como voIP e 3G, entre outras, ficará prejudicada” afirma o pesquisador.
Apesar do IPv6 trazer benefícios, a maioria deles não é visível a curto prazo, nem para as empresas e usuários finais em geral, nem para os provedores de internet. Por isso, mesmo com a inevitabilidade de sua implantação, o processo de transição tem sido lento. “Como ainda há endereços IPv4 disponíveis e custos envolvidos na implantação do novo protocolo, todos têm adiado a transição ao máximo”, explica Moreiras.
Com a proximidade do esgotamento, essa situação começa a mudar. Segundo o especialista, viu-se uma aceleração na implantação nos últimos dois anos. O Google, por exemplo já tem todos os serviços disponíveis via Ipv6. O Facebook anunciou um serviço experimental há pouco tempo e a Comcast, um dos maiores provedores do mundo, está fazendo testes com seus usuários. “Aqui no Brasil, temos vários casos de provedores de serviço e conteúdo implantando o IPv6, basta acompanhar a sessão de últimas notícias do sítio web www.ipv6.br", diz o pesquisador.
O papel dos governos
Vários governos têm incentivado a implantação do IPv6 na internet, através do envolvimento de autoridades das áreas de comunicações, energia, ciência e tecnologia, educação, entre outras. O próprio Governo Federal mostra entendimento sobre a questão, pois o documento de referência da e-PING, já há algum tempo, afirma que: "6.1.1. Os órgãos da Administração Pública Federal deverão se interconectar utilizando IPv4 e planejar sua futura migração para IPv6. Novas contratações e atualizações de redes devem prever suporte à coexistência dos protocolos IPv4 e IPv6 e a produtos que suportem ambos os protocolos".
Nesse contexto, a intervenção do governo, em suas várias instâncias, é essencial para o sucesso dessa implantação. Muitos países têm se conscientizado disso e incentivado a implantação do IPv6 na internet. Dentre as diversas ações tomadas, podemos citar as seguintes:
- Apoio a projetos de pesquisa sobre IPv6, e a projetos para a disseminação do novo protocolo.
- Criação de normas para aquisição de equipamentos e serviços, na esfera administrativa, com suporte obrigatório a IPv6.
- Implantação do IPv6 nas redes e serviços internet do governo.
Incentivos fiscais à adoção do IPv6.
Como exemplos de países que têm implantado ações em prol da adoção do IPv6, podemos citar: França, Índia, Espanha, Austrália, Japão, Estados Unidos e Malásia.
A importância de se garantir o acesso à rede
Segundo a pesquisa sobre o uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil, realizada pelo Centro de Estudo sobre as TICs (Cetic.br), em 2009, 95% das empresas brasileiras com 10 ou mais funcionários têm computadores. Dessas, quase todas, 97%, acessam a internet. Ou seja, 92% do total das empresas brasileiras com dez ou mais funcionários utilizam a internet para atividades do seu dia a dia.
A pesquisa traz mais números interessantes sobre o cenário nacional: 40% dos brasileiros são usuários de computador e 34% são internautas, com 53% destes acessando a rede diariamente. Quase 90% dos internautas brasileiros usam a rede para comunicação, lazer e busca de informações; 73% usam para educação e treinamento; e 18% para atividades bancárias. Pode-se afirmar ainda que 45% dos internautas já utilizaram a rede para pesquisar preços ou produtos e que 16% já fizeram compras online.
Esses dados servem para reforçar um conceito que poucos duvidariam atualmente: a internet está, cada vez mais, ligada à vida dos indivíduos e das empresas no Brasil. Ela é uma das bases sobre as quais está se constituindo uma nova ordem mundial, que convencionou-se chamar de “Sociedade da Informação”.
Uma das características dessa nova ordem é a velocidade com que as mudanças e novos desenvolvimentos tecnológicos ocorrem: “90% dos cientistas que já viveram sobre a face da terra ainda estão vivos” (Philip Kotler). “A massa de conhecimentos da humanidade, que hoje dobra a cada cinco anos, dobrará a cada 90 dias nos próximos dez ou quinze anos” (World Future Society).
Por isso o debate em torno do Ipv6 é tão importante, para que todo esse crescimento virtuoso não seja, de uma hora pra outra, freado. Nessa nova ordem, o que fará a diferença entre ricos e pobres não será mais a divisão norte-sul, mas o acesso, ou não, à tecnologia e à informação.
Comunicação Social do Serpro - Belém, 13 de agosto de 2010