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Liberdade para se conectar
Os softwares livres, que podem ser modificados e distribuídos sem
restrições, só emplacam quando fazem tudo o que os programas comprados
nas lojas fazem, igual ou melhor, tão fácil ou mais.
Acomodando
suas mochilas em um alojamento no Clube Farrapos, um grupo dos que
fazem enumerava, ontem, as razões de terem viajado de Niterói (RJ) para
Porto Alegre, onde encontrarão outros 6,6 mil adeptos dos programas de
código aberto no 9º Fórum Internacional Software Livre (Fisl). O evento
vai de hoje até sábado, no Centro de Eventos da PUCRS.
- Para mim, software livre é um movimento social - afirma o estudante de engenharia de telecomunicações Álvaro Justen, 20 anos.
Porque a moral do software livre é colaborar. Justen, por exemplo,
contribui reportando de graça falhas em programas ou os traduzindo para
o português. Não que o estudante não queira também ganhar dinheiro:
junto com dois amigos, está montando uma empresa para desenvolver
softwares com código aberto, ou personalizar os programas de outros
para empresas. No fórum, buscarão parcerias para o seu negócio.
A
três quilômetros dali, em casa, o estudante de publicidade Luiz Alberto
Fiebig Junior, 25 anos, digita seu trabalho de conclusão em um software
livre: o editor de textos que integra o pacote BrOffice, o equivalente
do código aberto ao conhecido Microsoft Office (aquele que inclui o
Word, o Excel e o PowerPoint). Nenhum sonho de liberdade envolveu a
escolha: seu micro veio com Windows, o sistema operacional da Microsoft
(instalado em cerca de 90% dos computadores no mundo), mas sem o
Office, e ele não quis partir para o pirata.
-
Até sei que é (software livre), mas estou usando por causa das
funcionalidades mesmo. Só muda o nome: ambos fazem a mesma coisa - diz
Fiebig, que também usa a planilha eletrônica para controlar seus gastos.
No
Brasil, cerca de 7 milhões utilizam o BrOffice. Outro software livre
bem popular é o navegador de internet Firefox, que substitui o Internet
Explorer, da Microsoft, e tem cerca de 6 milhões de usuários em
português. Fiebig é um deles: foi atraído pelo recurso de navegação em
abas, que permite abrir vários sites na mesma janela. O Explorer só foi
adotar esse tipo de funcionalidade em 2006.
Mesmo quem não se
interessa por informática usa software livre, sem saber. Cada vez que
os 2,9 milhões de correntistas do Banrisul tiram o extrato de sua conta
num caixa eletrônico, vão lidar com um computador rodando em Linux - o
equivalente, em programas livres, ao Windows. Da mesma forma, clientes
das 96 lojas Renner pagam as suas contas em caixas movidos a software
livre, há mais de 10 anos.
-
Usamos o sistema operacional Linux em todos os computadores e nas 250
máquinas de auto-atendimento. É um sistema extremamente confiável -
elogia o gerente geral de tecnologia da informação (TI) da rede de
varejo, Luiz Agnelo Franciosi.
Os sistemas abertos comandam
também o sonho de riqueza de boa parte dos brasileiros: todas as
lotéricas da Caixa têm computadores com software livre desenvolvido
pelo banco. Isso rende uma economia anual mínima de R$ 10 milhões,
segundo o gerente de TI da Caixa no Estado, Rogerio Monteiro.
Presente
em 73% das grandes empresas (com mais de mil funcionários), conforme
pesquisa do Instituto Sem Fronteiras, fica evidente que o ideal de
compartilhar conhecimento, base do software livre, não é ingênuo.
Apesar de virem de fora, os participantes do fórum não estão aqui a
passeio.
- Vim em busca de aprendizado, experiência e ver que software livre é feito e usado por pessoas normais, não só por geniozinhos - diz Maurílio Alberone, 22 anos.
Zero Hora, Rodrigo Müzell e Vanessa Nunes, 17 de abril de 2008