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Convergência utiliza o virtual para potencializar o real
Imagine-se que alguém inicie uma chamada telefônica em casa, utilizando rede fixa; continue conversando no trajeto para o trabalho, passando a utilizar uma rede móvel, até finalmente concluir o telefonema fazendo uso da rede wi-fi disponível no escritório de trabalho. Sem mudar de aparelho e sem notar a transferência de uma rede para a outra. Essa é uma das possibilidades apontadas pela próxima etapa da convergência digital, suportada pela tecnologia 4G. Mapas interativos que aparecem no vidro do carro, um aviso sonoro indicando que está faltando comida para o cachorro quando você passa em frente ao petshop e outras funcionalidades que embaralham o virtual com o real são aspectos da chamada “realidade aumentada” que devem se massificar nos próximos anos.
“Tecnicamente essa já é uma realidade viável. Os entraves ficam por conta das disputas comerciais em jogo, que são muitas”, avalia o engenheiro Rodolfo Souza, coordenador dos laboratórios de Telecomunicações do Inmetro. “Operadoras de telefonia, principalmente a móvel, defendem a continuidade de cobrança por serviços, algo que oferece excelente remuneração. Já os provedores de conteúdo querem a chamada neutralidade da rede, a rede como um 'tubo', simples canal de transmissão, no qual se paga pela conectividade, e não pelos minutos ou serviços”, analisa Souza.
A queda de braço entre os setores é resquício de uma era em que se construía uma infraestrutura para cada tipo de transmissão: rádio, telefone, tevê, texto escrito. “Hoje esses setores entram em competição porque temos a chamada convergência digital: a rede de transmissão passou a ser independente do conteúdo a ser transmitido, pois tudo é convertido em bits, tudo é digital. Anteriormente, voz, dados e imagens requisitavam meios de transmissão específicos”, explica Rodolfo Souza. O especialista aposta em uma “rede de redes”, na qual fibra ótica, wi-fi, cabeamentos fixos e outros meios de transmissão subsistam. “Todas essas redes, com características distintas de mobilidade, capacidade de transmissão e custos, estarão integradas em um arcabouço comum, baseado em protocolo IP. Não importa se virá o IPv4 ou IPv6, mas deve vingar o IP”.
Da multimídia para a transmídia
Se o engenheiro destaca a possibilidade de telefonar usando várias redes de maneira transparente, um especialista em comunicação digital se encanta com as funcionalidades da 4G relacionadas ao entretenimento. “Você vai estar na rua lendo um livro no celular. Chegando em casa, pode ler no e-book e depois passar para o computador. Os conteúdos vão estar na rede, ou melhor, na nuvem. Não teremos mais de colocar cada conteúdo em cada um dos aparelhos”, prevê Eduardo Pellandra, professor de Comunicação Digital da PUC-RS.
Os produtos culturais tendem a invadir simultaneamente vários meios de comunicação. Pode-se dizer que isso já existe há muito tempo, como o filme que serve de mote para o lançamento de outros produtos. Mas o que se consolida é o conceito de transmídia: o conteúdo é ampliado e não só replicado em várias mídias. “A pessoa acompanha a novela que se ambienta na Itália, e no site da novela sabe mais sobre Toscana, interage no blog, sabe sobre o futuro dos personagens. Pode jogar um game baseado no filme sem ter visto o filme, e o game, por sua vez, abre novos aspectos dos protagonistas da série. O conteúdo se espalha entre várias mídias, mas com uma nova inteligência, de maneira complementar”, ressalta Pellandra, indicando o livro “Cultura de Convergência”, de Henry Jeikins, como referência no assunto.
Comunicação Social do Serpro - Porto Alegre, 21 de setembro de 2010