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Software livre ainda é uma promessa
Sady Jacques, coordenador-geral da Associação Software Livre.org,
responsável pela organização da fisl em Porto Alegre (RS), admite que
mesmo a adoção da tecnologia pelo governo, que desde o primeiro mandato
do presidente Luis Inácio Lula da Silva defendeu publicamente a
substituição de sistemas proprietários, "não aconteceu da forma como
gostaríamos".
"Os legados de software são quase todos proprietários e envolvem
vínculos muito fortes", afirmou, referindo-se ao parque de máquinas
existente em ministérios e secretarias das instâncias governamentais.
Nas empresas, a adoção de sistemas de código aberto nos PCs cresceu
12,4% nos últimos 12 meses, mas o software livre está presente em menos
da metade dos microcomputadores corporativos. O índice, segundo
pesquisa do Instituto Sem Fronteiras divulgada em fevereiro deste ano e
citada por Jacques, é de 47%.
Na mesa do usuário doméstico a adoção de software livre ainda é uma
incógnita e a percepção é de que ainda não aconteceu de maneira
significativa, diante da falta de dados do mercado.
Para Jacques, entretanto, "é uma questão de tempo" para que uma
massificação do software livre aconteça, já que "a curva de adoção
cresce de forma acentuada, enquanto o sistema hegemônico - Windows, da
Microsoft - está estável".
O domínio da Microsoft nos sistemas operacionais instalados em mais de
90% dos microcomputadores está ligado a dois fatores, na opinião de
Jacques.
O primeiro é que o Windows tem mais de 20 anos de mercado, cerca do
dobro do tempo de existência do Linux, e a Microsoft tem acordos com os
principais fabricantes de hardware para que as máquinas já cheguem ao
mercado com o sistema instalado. "É um acordo legítimo, a Microsoft
sabe que precisa dessas parcerias para sobreviver", afirmou.
Além disso, "a disseminação do Windows na casa do usuário se deve ao
fato de que há uma distribuição em massa de cópias piratas do sistema",
acrescentou Jacques. "Tenho absoluta certeza de que, do total de
máquinas com Windows nas casas das pessoas, metade é cópia pirata, é
contravenção."
Por isso, na sua avaliação, só uma política pública eficaz de combate à
pirataria poderia contribuir para que o consumidor final visse o Linux
com outros olhos, já que seria uma opção de custo menor aos usuários
diante dos programas proprietários que exigem pagamento de licenças.
Apesar do ritmo de adoção ainda abaixo do esperado, a tecnologia de código aberto tem a seu favor no Brasil o fato de que mais de 73% das companhias com mais de mil funcionários utilizam software livre em algum grau, disse Jacques, citando a pesquisa do Instituto Sem Fronteiras.
Jornal do Commercio, RJ, 18 de abril de 2008